Psicose


Existem muitas apresentações para a psicose, mas de modo geral, no senso comum, quando falamos sobre a psicose, e nos referimos a surtos, delírios e alucinações, estamos falando esquizofrenia. Que é a forma mais comum de apresentação da psicose. Entretanto, está no campo da psicose, o transtorno bipolar, o transtorno borderline, a melancolia e o autismo, (embora existam divergências dentro da psicanálise em relação a este posicionamento do autismo dentro da teoria), entre outros.
Antes de começar a discutir a psicose, acho importante pontuar, que a psicose não é uma doença. É uma forma de estruturação da psique, que não é nem melhor, nem pior que a neurose. É uma forma de ser no mundo, que pode causar mais ou menos sofrimento para o indivíduo, a depender de como essa psicose se organiza neste indivíduo, assim como a neurose. Existem transtornos que são próprios da psicose, assim como existem transtornos típicos da neurose. Existem indivíduos que sofrem muito, que passam por repetidos surtos psicóticos, e também aqueles que conseguem ter uma vida comum, trabalhar, constituir família, desenvolver seus desejos e interesses de forma satisfatória.
Voltando aos textos passados, em que falei das diferentes constituições psíquicas como adaptações às imposições da realidade, a psicose é a saída em que o sujeito, incapaz de se submeter a estas imposições, quebra com a realidade, e acaba por construir sua própria realidade, por sua vez, mais suportável para este Eu, mesmo que não isenta de sofrimento.
A primeira imposição do mundo real, mais dura de ser suportada, é a separação do bebe de sua mãe. Se dar conta, de que ele é um e a mãe é outro é algo extremamente frustrante, que causa um profundo sofrimento para o bebê. Pois, é importante termos em vista que para este bebe, sua existência está completamente à mercê desta mãe, e portanto, se perceber como menos que tudo para ela, é quase que insuportável.
E é esta percepção, que se torna insuportável para o psicótico, que por sua vez, não se separa, vive uma existência unificada, ele-mãe-mundo. Por isso os delírios de perseguição, por isso as alucinações, porque seu pensar é o mundo, e o mundo expressa o seu pensar, portanto, ele percebe no mundo, o seu mundo interno.
E essa mistura com o mundo se expressa nos pensamentos intrusivos, que podem chegar a ser percebidos como vozes, já que, como não tem outro, também não tem Eu. Ou seja, não tem meus pensamentos, tem vozes de fora que dizem para mim. O que vem de dentro parece vir de fora, a medida que um Eu, que pensa, que quer, que imagina, não se constitui, tudo parece vir de fora.
Por isso, psicose se expressa em cada sujeito de formas tão diversas, pois cada mundo interno é próprio de cada sujeito. Esses diferentes transtornos, estão dentro da daquilo que chamamos de psicose, porque de suas diferentes formas, todos têm em comum, a quebra com a realidade, e neste vazio onde se encontraria o mundo real, cria-se uma realidade própria, que condiz com sua realidade interna, expressando sempre seu sofrimento psíquico.