Perversão

Helena Balbachevsky Guilhon

8/15/20233 min read

De acordo com Freud, a perversão é o negativo da neurose. Tendo em vista a neurose, como o complexo gerado a partir do reconhecimento e introjeção do limite imposto pela realidade, a perversão é o reconhecimento e recusa do mesmo.

Ainda na nossa conversa sobre as saídas que encontramos para lidar com os limites e os desprazeres que a realidade nos impõe, a perversão é a saída em que não se lida com nada disso, se recusa a lidar. Diferente do psicótico que não se limita porque não reconhece os limites da realidade, e acaba, portanto, quebrando com a realidade compartilhada, o perverso reconhece esses limites mas não se deixa ser barrado por eles.

O perverso se reconhece como alguém para além dos limites, mas impõe de modo severo esses mesmos aos outros.

Existe uma importante diferença da relação do perverso, e do psicótico com o limite. O primeiro, reconhece o limite, e o nega, diante deste reconhecimento. Já o segundo sequer o reconhece, é um com o mundo.

A recusa deste limite pelo perverso, é também a recusa do reconhecimento da alteridade, do Outro, o que implica na fetichização, por exemplo, no masoquismo, o sujeito se coloca no lugar de fetichizado, já no sadismo o Outro é colocado neste lugar. pode-se também fetichizar algum objeto, cena, cor, cheiro, o que for…

E o que é o fetichizar? É ter um objeto exclusivo de prazer, implicando no não reconhecimento da alteridade deste objeto, ou seja, seu objeto de prazer não existe para além da cena do prazer, tendo esse exclusivo objetivo de o dar prazer. Em outras palavras, a obtenção de prazer para o perverso, exclui o reconhecimento deste objeto como sujeito desejante.

Podemos ter nesses casos, desde sujeitos que apenas conseguem obter prazer com alguém vestindo uma bota, a sujeitos que só obtém prazer olhando uma cena sexual, que chamamos de voyeur, entre outros. Mas o que sempre teremos em comum dentre os perversos é a exclusividade naquilo que dá prazer, e na impossibilidade de reconhecimento da alteridade neste objeto, independentemente de ele ser de fato um objeto inanimado ou uma pessoa.

Neuróticos também tem fantasias perversas, neuróticos também fetichizam, a diferença está na não atuação da fantasia, na não sustentação da fetichização fora da fantasia, e na multiplicidade naquilo que tem como objeto de prazer. Ou seja, Neuróticos fantasiam em transgredir a lei, mas ou não o fazem, ou fazem e se sentem culpados, perseguidos. Um neurótico pode fetichizar um parceiro, mas diante da realidade deste parceiro é incapaz de não o reconhecer alí como outro sujeito com seus próprios desejos, nem que esse reconhecimento o cause irritação, raiva, frustração, mas será reconhecido. E principalmente os neuróticos não são exclusivos nas suas fontes de prazer, podem querer gozar com uma bota, mas irão também gozar sem a bota, com vestido, sem vestido, e assim por diante…

Acho importante comentar também, que nem todo perverso é um transgressor da lei. E nem todo transgressor da lei é um perverso. Aqueles que chamamos de psicopatas, criminosos em série, pedófilos, são um grupo específico de perversos, que obtém seu prazer na transgressão, com a humilhação do outro e na destruição do caráter limitador das leis. Ou seja, a lei sai do lugar de dar limites e contornos para sua conduta, e se torna um instrumento para o prazer. E que, portanto, não sentem ao transgredir tais limites, sentimentos de culpa, nojo, medo, quaisquer afetos que impedem os neuróticos, por exemplo, de atuar suas fantasias perversas.

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